22.11.12

Velha, conhecida e romântica história








GMV.: Se eu pude inspirar um pouquinho de vida nova nele, isso significa que eu estou vivo. 

Todo nós em Puerta del Fuego somos fantasmas do passado. Caçadores de búfalos onde não há mais búfalos vaqueiros onde não há vacas, prospetores onde não há ouro.A escória da velha e romântica fronteira, que é incapaz de aceitar a vinda do telégrafo,das ferrovias ou a realidade, no que importa.

GMV.: Bem, eu nunca vi ninguém mais real, feliz, vivo e livre que esses homens.


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Mais uma história do western spaghetti, nesta de Sergio Sollima, temos um homem morto nas imagens acima...que nasceu sem vida num meio de pessoas cinzentas da cidade de Boston, aonde supomos que uma ideia liberdade vem do que se pensa e não do que faz e sente, que nós conheceremos no mundo do filme. O personagem de Gian Marie Volanté, descobre em Beau / Tomas Milian , um selvagem, um modelo, um herói, que provavelmente tirou de seus milhares de livros, assim como nós tiramos de grandes filmes. A sua vida já é perdida mas Beau possibilita esse novo mundo a Brett, uma fantasia que dura momentos, minutos. Mas o que acontece, já sabemos, Brett inspira, vive, mas não é Beau, já que este é um homem que nós conhecemos de longe. A imagens acima mostram o fim do delírio de Brett, temos duas imensidões, o céu e o deserto, dois homens do oeste, já não há espaço para Brett nessa fantasia que está chegando ao fim, ele anda..nos fala de seus planos, e desaparece entre a linha das duas imensidões. Já Beau, que está em cena, termina mais uma história do cinema para nós. Mais uma vez o guerreiro do cinema arranja um jeito de desaparecer, sendo filme de 67. Porém, o guerreiro tornou em outras grandes histórias, grandes filmes.





2 comentários:

bruno andrade disse...

No começo GMV parece uma escultura de mausoléu - pálido, bloco maciço de movimentos duros, postura rígida e retilínea digna de uma escultura, ou mais especificamente da classe a que ele pertence com desgosto. Um morto-vivo.

Aqui, na morte, pela morte, ele sua, se desequilibra, ofega, gesticula em passos definitivos, sofre enquanto o vento da mudança bate no seu rosto, bagunça os seus cabelos, encara com perplexidade mais uma das grandes reviravoltas que a História dá em forma de enigma. Na morte, a vida.

E depois falam, aqui no Brasil com um gosto que beira o obsceno, que a mise en scène é um delírio de diletantes cinefílicos. Ah, se ao menos vissem filmes, e os filmes em que esse "delírio" toma e ganha sopro sob a forma mais assertiva e incontestável - a da convicção.

bruno andrade disse...

Os olhos marejados, perdidos na projeção física da impotência e da insensibilidade mascaradas de compreensão aguda do "papel" do materialismo histórico.

É também o melhor filme de esquerda a fazer uma crítica POSITIVA da esquerda - todos os outros italianos (Bertolucci, Pasolini, Bellocchio) e o restante de franceses (Godard), brasileiros (Glauber, Saraceni, Hirszman) e americanos (Kramer, Hellman) que entraram na brincadeira perderam de relho do Sollima.